Encerrado o período de registros de candidaturas, podemos observar vereadores lançando suas candidaturas para deputado federal ou estadual, fenômeno que já ocorreu em outras eleições. Alguns deles com aparente chance de êxito, outros porém com chances bem reduzidas de trocar o legislativo municipal por uma representação mais ampla.

Quais seriam os elementos que motivam os mandatários a enfrentar uma nova eleição 20 meses depois de tomar posse na Câmara municipal? Conversando com alguns destes parlamentares obtive os seguintes motivos:

  • Vontade concreta de assumir uma cadeira de maior representatividade: teria utilizado o mandato de vereador e sua estrutura como um trampolim para um cargo que já ambicionava;
  • Exigência do partido: por conta da cláusula de desempenho os partidos precisam ampliar suas votações para conseguir manter seu pleno funcionamento e, principalmente, assegurar o acesso ao fundo partidário;
  • Alianças políticas: necessidade de potencializar o apoio político a uma outra candidatura, as famosas dobradas. Em outras palavras, o vereador sairia candidato a um cargo para ajudar outro político que se candidatou a um cargo de esfera diferente, se o político que receberá apoio sair candidato a deputado federal o  vereador se candidataria a deputado estadual ou vice versa;
  • Potencializar as chances de reeleição no próximo pleito municipal: o vereador ou vereadora aproveitaria a oportunidade de concorrer no pleito estadual para manter seu nome em evidência, ampliando suas chances de reeleição a vereança.

Os três primeiros pontos são bastante particulares e, consequentemente, difíceis de serem analisados de forma mais ampla, porém o último ponto nos possibilita uma análise pregressa para verificar se realmente os vereadores que se candidatam a deputados tem uma taxa maior (ou não) de reeleição do que aqueles que não se candidatam.

Vamos lançar primeiro um olhar para o Brasil (através das capitais dos estados) e depois para Curitiba em particular.

Com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral a taxa de vereadores de capitais eleitos em 2016 que disputaram e não venceram as eleições para o cargo de deputado em 2018 e buscaram a reeleição para o legislativo municipal em 2020 foi de 55,1%. Já a taxa de reeleição dos vereadores de capitais que não disputaram o cargo para deputado em 2018 foi de 56,9%. O que demonstra uma leve vantagem para aqueles que não concorreram, mas, convenhamos, não é uma diferença percentual tão grande.

Ser eleito ou não tem correlação com vagas obtidas pela coligação entre outros fatores. Resolvi testar, então, uma hipótese: se os vereadores (de capitais) que disputaram eleições para deputados tiveram médias maiores de votação do que aqueles que não concorreram. O Gráfico a seguir nos mostra que não, pelo contrário. Os vereadores que não disputaram as eleições de deputado, tiveram uma média quase 30% maior do que aqueles que se candidataram no meio do mandato.

Gráfico 1 – Média de votos em 2020 dos vereadores eleitos em 2016 

Podemos perceber pelos dados, neste cenário, que ser candidato a deputado não significa automaticamente um crescimento de votação na eleição subsequente de vereador, pelo menos não quando olhamos os dados nacionais. E se olharmos para nossa capital? Afinal as diferenças regionais são relevantes quando pensamos o comportamento dos eleitores.

Em Curitiba diferente do cenário nacional a taxa de reeleição foi maior entre os que concorreram a deputado na metade do mandato de vereador, como podemos ver no gráfico abaixo.

Gráfico 2 – Taxa de reeleição dos vereadores de Curitiba X capitais do Brasil

A diferença é de 12,1%, bastante relevante. Portanto, respondendo a pergunta inicial, aparentemente no caso das capitais brasileiras não é uma grande vantagem concorrer a deputado como estratégia de potencializar uma eventual reeleição, porém se olharmos para Curitiba essa estratégia trouxe algum êxito no período analisado. Vamos acompanhar e observar se esse fenômeno se repetirá em 2024.

Editoria: Eleições 2022